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Como os principais veículos midiáticos do Pará retrataram o protesto da ocupação na SEDUC?

  • Foto do escritor: OLIM
    OLIM
  • 26 de mar.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 27 de mar.

Por: Lívia Leoni e Roberta Cartágenes.


Cobertura da ocupação indígena na SEDUC. Foto: Iara Campos.
Cobertura da ocupação indígena na SEDUC. Foto: Iara Campos.

No dia 14 de janeiro, a sede da Secretaria de Educação do Estado do Pará foi ocupada por mais de 20 etnias indígenas, que protestavam pela revogação da Lei 10.820 e pela exoneração do atual Secretário de Educação, Rossieli Soares.


A lei, aprovada na Assembléia Legislativa em dezembro do ano passado, colocou em risco a educação indígena, ao alterar as gratificações dos professores do Somei (Sistema Modular de Ensino Indígena) com valores que, segundo os indígenas, tornaria inviável a permanência dos educadores nos territórios e levaria a um modelo de ensino remoto. Veja mais detalhes sobre a Lei nesta matéria do Olim.


Como um fato de grande importância na sociedade paraense, é esperado que a mídia realize uma cobertura da ocupação, informando sobre os acontecimentos dos mais de 20 dias de protesto. Porém, a repercussão não foi tão expressiva, sendo uma pauta mais recorrente nos jornais e portais independentes.


Para compreender como a mídia tradicional paraense realizou esta cobertura, o OLIM fez uma análise de três portais jornalísticos: Diário Online (Dol), G1 Pará e O Liberal. A partir da compilação das matérias que foram veiculadas desde o início da ocupação até o dia 5 de fevereiro, podemos ter um olhar panorâmico do jornalismo paraense e da sua relação com os movimentos políticos e sociais.


Veículo 1 - Diário Online (DOL)


O Diário Online, ou DOL, é o portal online do Diário do Pará, que pertence ao grupo RBA. Este grupo é comandado pela família Barbalho, que é alinhada ao governador Helder Barbalho. Como o Olim observou, as matérias sobre a ocupação também acompanham este alinhamento.


Entre os dias 14 de janeiro e 5 de fevereiro, foram publicadas 12 matérias sobre a ocupação. Entre as 12, apenas quatro possuem algum integrante da comunidade indígena na matéria. Por outro lado, todas as matérias veiculadas, neste período, possuem um representante do governo retratado, seja como nota da Seduc, ou em falas do secretário de educação, Rossieli Soares, ou em posicionamentos do governador Helder.


IMAGEM 1 - Manchete do DOL
IMAGEM 1 - Manchete do DOL

Todas as matérias analisadas tem como intuito desmentir a extinção do SOME, e reafirmar que a ocupação é proveniente de uma desinformação. Outro ponto a ser destacado é que, das dez lideranças indígenas ouvidas nas quatro matérias do DOL, apenas duas se mostraram contrárias à Lei 10.820. As outras lideranças, por sua vez, reforçaram que o diálogo com o governo do Estado é fundamental.


IMAGEM 2 - Manchete do DOL
IMAGEM 2 - Manchete do DOL

As matérias realizaram escolhas de discurso que descredibiliza o movimento indígena, afirmando, por exemplo, que apenas “uma dezena de etnias ocupam a Seduc” ou que o acordo com o governo ainda não havia sido aceito porque as comunidades teriam "mais reivindicações que extrapolariam questões ligadas à educação escolar indígena".


IMAGEM 3 - Trecho de matéria do DOL
IMAGEM 3 - Trecho de matéria do DOL

Veja no gráfico abaixo os resultados desta análise.

GRÁFICO 1 - Fonte: OLIM
GRÁFICO 1 - Fonte: OLIM

Veículo 2 - OLIBERAL


O site OLiberal é o portal de notícias do jornal homônimo, criado em 1946 e incluído no Grupo Liberal desde 1966, ao ser comprado por Rômulo Maiorana.


Do dia 14 de janeiro a 5 de fevereiro, o portal publicou 6 matérias sobre a ocupação indígena na sede da Seduc. Das seis, quatro com entrevistas do Governo do Estado, três matérias com entrevistas com lideranças indígenas, sendo nenhuma delas contrária ao Governo, e duas sem entrevista alguma.


Da meia dúzia de manchetes publicadas, quatro delas têm como sujeito da frase o “Governo do Estado”, sempre em contexto apaziguador e com sentenças que levam a crer em uma resolução iminente. Os povos indígenas que ocupam a Seduc só aparecem como sujeito da frase em uma manchete, descritos como “manifestantes indígenas”, em que a notícia é que faltaram a um encontro com o Governador, mas nenhuma liderança foi ouvida para justificar a suposta ausência.


Vale ressaltar, que a primeira matéria a ser publicada foi no dia 15/01, um dia após o começo do protesto, com a manchete “Nova Lei do Magistério do Pará garante permanência do Sistema de Organização Modular de Ensino”. Ou seja, não houve publicação sobre a notícia factual da ocupação indígena no dia 14/01, e a primeira reportagem já carrega um caráter de defesa da conduta do Governo do Estado com relação à Lei 10.820 e sem entrevista de nenhuma liderança indígena que ocupa a sede da Seduc, desenvolvendo uma narrativa de que a manifestação seria infundada.


Por fim, foi feita a análise do jornal físico OLiberal, que é conjunto do portal de notícias. Desde a ocupação dos indígenas na sede da Seduc, foram publicadas 22 edições do jornal, e em nenhuma delas a capa trouxe notícias e atualizações sobre o que acontecia.


IMAGEM 4 - Capa O Liberal
IMAGEM 4 - Capa O Liberal

O gráfico a seguir aponta os resultados obtidos na análise:

GRÁFICO 2 - Fonte: OLIM
GRÁFICO 2 - Fonte: OLIM

Veículo 3 - g1 Pará


O g1 é um portal de notícias brasileiro administrado pelo Grupo Globo e supervisionado pela Central Globo de Jornalismo. Desenvolvido para o ambiente digital, o portal reúne redes afiliadas, como o G1 Pará, que abrange a Rede Liberal e a TV Tapajós.


Entre 14 de janeiro a 5 de fevereiro, o portal publicou ao todo 11 matérias sobre a ocupação indígena na sede da Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc). A cobertura apresentou algumas tendências em relação às fontes consultadas, à repetição de discursos e à forma como o movimento indígena foi retratado.


Entre as 11 matérias, seis citaram o Ministério Público Federal (MPF) e seis trouxeram falas de representantes do governo estadual. Dessas, três mencionaram a Seduc, cinco apresentaram a mesma fala do secretário Rossieli Soares e uma incluiu uma declaração do governador Helder Barbalho. Ao mesmo tempo, outras quatro matérias repetiram as mesmas falas de lideranças indígenas, especificamente citando “líderes indígenas no prédio”, Alessandra Korap (Munduruku) e Auricélia Arapiuns (do Conselho Indígena do Tapajós e Arapiuns).

IMAGEM 5 - G1
IMAGEM 5 - G1

A mesma fala de Alessandra Korap, liderança Munduruku, apareceu em outras matérias que podem ser vistas nos links abaixo:

Um ponto relevante é que nenhuma das 11 matérias analisadas trouxeram vozes externas ao conflito, limitando-se às declarações do Ministério Público, da Seduc, do Governo do Pará, do Ministério da Educação (MEC) e das lideranças indígenas. Além disso, quatro matérias não incluíram falas diretas das lideranças indígenas, utilizando apenas expressões genéricas como “segundo os indígenas”, “os manifestantes” e “os envolvidos”.

Veja no gráfico abaixo o resultado da análise:

GRÁFICO 3 - Fonte: OLIM.
GRÁFICO 3 - Fonte: OLIM.


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